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sábado, 21 de julho de 2012

Grey Gardens, sonhos despedaçados. (1975)




No ano de 1973, um escândalo ocupou as manchetes dos jornais americanos. Autoridades locais de East Hampton, uma área residencial nobre no estado de Nova Iorque, tentaram expulsar mãe e filha de uma mansão decadente do balneário de luxo, alegando falta de condições sanitárias. Isso tudo pode acontecer por inúmeras razões, mas, neste caso, mãe e filha se tratavam das ex-socialites Edith Bouvier Beale e sua filha Edie, outrora pertencentes ao crème de la crème da sociedade novaiorquina. Não apenas este fato inflamava as notícias nos jornais, mas, sobretudo, por elas serem, respectivamente, tia e prima de Jacqueline Kennedy Onassis.




A vida intrigante e pertubadoramente interessante de Edith Bouvier Beale e sua filha Edie foi inicialmente tema do polêmico documentário dos irmãos Albert e David Maysles, "Grey Gardens," lançado em1975. Inovadores da técnica do "cinema direto," os irmãos aportaram na mansão de East Hampton com uma camera e um microfone nas mãos e algumas ideias na cabeça. O resultado produziu um compêndio de excentricidades, protagonizado por duas mulheres, cujos diálogos deixariam perplexos Tenesse Williams e Euguene O'Neil. Mas, Grey Gardens mostra muito mais do que isso. O documentário foi feito dois anos depois da reforma da casa, realizada por Jacqueline K. Onassis, mas ainda é possível sentir a presença do abandono, do descaso, do autoflagelo humano e da imundície na qual Big Edie e Little Edie, como eram conhecidas, mergulharam nos últimos 20 anos de convivência na mansão.
Big Edie, a mãe, cantava. Little Edie, a filha, tinha sido modelo e tentado ser atriz. Ao serem filmadas pelos Irmãos Maisley, o que elas revelaram não era tanto seu comportamento cotidiano, mas as suas interpretações artísticas frustradas no passado. Os Maisley ilustram bem isso ao abusar da imagem da bela pintura a óleo de Big Edie, na qual ela aparece como uma jovem de beleza ímpar, e que, no momento do filme, estava jogado em um canto do quarto, servindo como esconderijo para os gatos fazerem cocô e xixi.
Do lado de fora da mansão, o abandono não é menos pronunciado. Composta por grandes jardins e um velho casarão, a mansão estava tomada por lixo, detritos, gatos pestilentos, guaxinis e pulgas. Isoladas de tudo e de quase todos, eram incapazes de sustentar as necessidades de manutenção do casarão e deixavam a velha mansão ruir à sua volta, enquanto viviam em condições precárias
Dois anos depois, Big Edie e Little Edie, como eram conhecidas, abrem as portas para os documentaristas Albert e David Maysles. Câmera e microfone em punho, eles flagram escentricidades de duas mulheres que vivem isoladas há mais de 20 anos e travam diálogos dignos dos melhores textos de Tenesse Williams e Euguene O'Neil.

Este tema parecia, ao mesmo tempo, o mais improvável e o mais óbvio para um documentário. A relação particular entre duas mulheres isoladas do mundo, a tia e prima de Jacqueline Kennedy, constituía o material perfeito pelo fatos destas mulheres representarem a imagem perfeita do eterno sonho do estrelato, algo como um Crepúsculo dos Deuses em versão documental. Ao mesmo tempo, ninguém conhecia estas duas, que passavam despercebidas justamente por sua reclusão. Era preciso entrar no imenso casarão caindo aos pedaços para descobrir uma história das mais tristes e curiosas.

Neste local, a mãe octogenária vivia com a filha, com mais de cinqüenta anos, sem vida social, sem contatos com o resto da família. No entanto, este local imenso misturava, entre os ratos, o lixo e o resto de comida pelo chão, as imagens do tempo de glória de cada uma das duas mulheres. Fotos belíssimas, musicas gravadas pela mãe, convites e objetos dados de presente por pessoas famosas. Estas duas já foram, com certeza, duas grandes promessas de sucesso e fama; e seriam incapazes de aceitar o fracasso deste plano de vida.
O elemento interessante neste documentário consiste inicialmente em oferecer a duas mulheres histriônicas, que vivem da própria imagem fantasmática, a atenção e o sonho de estrelato sonhado. Sem ilusões, no entanto: os diretores deixam claro que este filme não tornará nenhuma das duas famosas, mas a pequena esperança já lhes é suficiente. Nasce então uma relação de sedução com a câmera, com as duas exibindo-se à imagem, mostrando seu melhor lado, vestindo-se bem e provando porque seriam indispensável nas vidas uma da outra – ou seja, porque a necessidade de cuidar uma da outra teria impedido que elas vivessem vidas independentes.

Grey Gardens é triste por ser o retrato mais cruel do fracasso da fama. Essas mulheres falharam como indivíduos sociais, e a pena que se infligem é isolar-se desta sociedade cruel e ingrata. O orgulho passa acima de todos os outros valores, neste espetáculo circense em que a filha, vestida com vestidos e capas, explica aos realizadores, no meio de um jardim seco e morto, as razões pelas quais estas seriam as melhores roupas para o dia.

O contraste entre o luxo imaginado e a precariedade real são tornados evidentes pela uso do cinema direto, sem comentários, sem situações criadas, sem grandes intervenções com trilha sonora ou luzes artificiais. Segundo os próprios diretores, eles pretendem ficar no fundo da ação, enquanto elas “fazem o que fazem”. Assim, não se sabe porque a filha teria voltado de Nova Iorque para morar com a mãe, porque ela cobriria sempre o rosto com um lenço, ou seja, não se tem muitos fatos que construíram esta situação de isolamento, mas os poucos elementos fornecidos permitem pensar, e construir sozinho este curioso quebra-cabeça.

Quando a câmera se instala no quarto imundo onde dormem as duas, as tensões aumentam, elas tentam evitar que digam coisas delicadas uma sobre a outra. Este medo que a imagem “revele a verdade” constitui a maior tensão para duas mulheres que sempre consideraram a imagem como um espelho dos sonhos. Ficam o mistério, cenas memoráveis de interação entre as mulheres e esta casa abandonada, e a sensação de que duas vidas foram inteiramente consagradas ao sonho despedaçado. Algo atroz.


http://www.interfilmes.com/filme_17065_grey.gardens.html
http://discurso-imagem.blogspot.com.br/2010/08/grey-gardens-1975.html
http://popupit.blogspot.com.br/2010/09/possiveis-inspiracoes-o-documentario-de.html
inemaconsciencia.blogspot.com.br/2009/10/grey-gardens-o-documentario.html
http://cinemaconsciencia.blogspot.com.br/2009/10/grey-gardens-o-documentario.html
Colaborador: Neto Lopes

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